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Nyusi diz que terroristas foram expulsos de todos os distritos de Cabo Delgado, mas ACLED prova o contrário

O Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, garante que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) expulsaram os terroristas de todos os distritos da província de Cabo Delgado. Nyusi falava na noite da última quinta-feira, em Maputo, durante o banquete de Estado oferecido ao seu homólogo do Quénia, William Ruto, que esteve de visita ao país até ao último sábado.

O Presidente Nyusi disse que, com o apoio da força local, as FDS continuam no terreno a perseguir os terroristas, os quais foram desalojados em todos os distritos que ocupavam até 2021. No entanto, o triunfalismo cantado pelo Chefe de Estado é contrariado pelo Projecto de monitoramento da violência armada no norte do país, “Cabo Ligado”, da ACLED, que revela ainda haver terroristas nos distritos de Macomia e Muidumbe.

No seu mais recente relatório, o “Cabo Ligado” dá conta de que o distrito de Muidumbe registou, durante o mês de Julho, dois incidentes de violência armada, sendo o mais notório o do lago Inguri, no qual homens armados ainda desconhecidos atacaram a 30 de Julho, deixando pelo menos sete civis mortos.

A maioria das vítimas mortais, segundo o “Cabo Ligado”, eram mulheres, que estavam entre os regressados nas redondezas do lago Inguri, onde a pesca constituí a principal actividade. Já em Macomia, a situação foi caracterizada por contactos frequentes entre os terroristas e a população das aldeias costeiras, a exemplo da aldeia Pangane, que é actualmente um centro comercial e pesqueiro do distrito.

Naquela localidade, os terroristas que apareceram com dois proeminentes líderes, Muamudo Saha, natural da aldeia Rueia, e Mussa Daniel, originário de Ilala, tentam estabelecer trocas comerciais com a população. No fim de Julho, os terroristas escalaram duas vezes a aldeia Pangane, depois da retirada de veículos de tropas sul-africanas.

Quanto ao distrito de Nangade, onde a população foi aconselhada a regressar pelo Comandante Geral da PRM, Bernardino Rafael, um agente da força local foi acusado de violar sexualmente uma jovem de 17 anos, no passado dia 24 de Julho, numa altura em que celebrava mais um aniversário de elevação à categoria de vila.

Quatro supostos terroristas entregaram-se às forças conjuntas em Mocímboa da Praia

Enquanto isso, um grupo de quatro terroristas, dos quais três do sexo masculino e uma mulher grávida, entregou-se recentemente às forças moçambicanas e do Ruanda, posicionadas na sede do distrito de Mocímboa da Praia, norte de Cabo Delgado.

Moradores que conversaram com agentes das FDS ligados à investigação disseram à “Carta” que dois afirmaram que tiveram treinos militares e participaram em diferentes ataques terroristas, enquanto o terceiro era usado para carregar bens assaltados e a mulher ficava na base na companhia de outras. Os quatro terroristas ainda se encontram sob custódia das autoridades para efeitos de investigação, não se sabendo quando serão reintegrados socialmente, à luz do perdão anunciado pelo Governo.

A entrega voluntária às forças de Moçambique e do Ruanda acontece numa altura em que, nos principais locais públicos, na vila de Mocímboa da Praia, as autoridades voltaram a fixar panfletos escritos em línguas Kimuane, Shimakonde, Kiswahili e Portuguesa, apelando aos terroristas a entregarem-se às autoridades, com garantia de que serão perdoados e integrados na sociedade. 

Fonte: CartaMZ