O remédio de lua é tido como a tábua de salvação para os recém-nascidos na zona sul de Moçambique.
Com medo da epilepsia – doença neurológica do sistema nervoso central em que a actividade do cérebro, os impulsos eléctricos dos neurónios e os sinais químicos cerebrais se tornam anormais, causando sintomas como convulsões e movimentos descontrolados do corpo –, as mães recorrem a este tratamento, também temendo a macrocefalia, doença que se caracteriza por a cabeça do menor ser maior que o proporcional para o tamanho certo dele.
O remédio de lua é, na verdade, uma mistura de plantas medicinais e serve, essencialmente, para tratar os bebés logo que nascem ou depois de alguns meses de vida.
O QUE TEM DE ESPECIAL?
Enraizado nas províncias de Maputo, Gaza e Inhambane, é servido em utensílios apropriados e conservado à temperatura ambiente para não perder o seu efeito terapêutico.
A origem do nome remédio de lua surge da crença de durante a transição da lua de uma fase para a outra este medicamento evitar a epilepsia e convulsões em crianças.
Essencialmente, o remédio de lua serve para prevenir doenças como xilala e nombo. Consiste em pedaços de raízes que são fervidas durante trinta minutos.
Geralmente, recomenda-se que as raízes sejam fervidas em panela de barro pelo facto de ajudar a conservar os princípios activos das plantas. Ou seja, conserva todas as propriedades das raízes quando estão a ferver, o que não acontece, por exemplo, numa panela metálica ou de alumínio, onde as propriedades facilmente se perdem durante a ebulição.
O medicamento é administrado três vezes ao dia (duas colheres de chá de manhã, à tarde e à noite) para prevenir a doença de lua.
TESTEMUNHOS
Esperança Simões Gimo, 63 anos, casada e mãe, disse ao domingo que os seus cinco filhos foram tratados com recurso ao medicamento tradicional. “Aos meus filhos eu dava o remédio três vezes ao dia.
Mas, após 30 dias de medicação, comecei a dar duas vezes ao dia. Não dava como outras pessoas fazem porque, na verdade, não se sabe quantos mililitros devemos dar e isso pode ter efeitos que podem causar problemas sérios aos bebés”.
A nossa entrevistada conta que, após algum tempo, conciliava a administração do medicamento entre o remédio tradicional e o remédio convencional.
“Sempre frequentei hospitais, mas, também, sempre usei o remédio tradicional para cuidar dos meus filhos recém-nascidos. Sempre controlava e dava um medicamento duas horas após ter dado o outro.
Nunca misturava. Sempre cumpri esse intervalo para não haver choque entre os medicamentos (convencional e tradicional)”, esclarece.
Falando sobre em que idade a criança deve começar a receber o remédio de lua, Esperança declarou que ”algumas pessoas dão o remédio após 30 dias do nascimento do bebé.
Entretanto, eu dava a partir do terceiro mês”.
Julieta Alexandre Machanguana, 64 anos, casada e mãe, conta ao domingo que os seus 10 filhos tomaram o medicamento de lua.
Sublinha que o remédio é um recurso porque “previne doenças como epilepsia e xilala.”
Continuando, sublinha: “o bebé recebe o medicamento nos primeiros dias de vida, mas o mais recomendado é que a administração deve ser feita a partir do sexto mês e quem deve fazê-la é a mãe ou uma pessoa muito experiente”.
No referente à dosagem, a nossa entrevistada afirma que “a administração do remédio de lua não tem uma dosagem certa, mas algumas gotículas são suficientes, desde que se cumpra com a recomendação de medicar três vezes ao dia”.
E ressalta: “as meninas podem deixar de medicar com um ano e meio e os rapazes podem se alongar até ao terceiro ano. Isso acontece porque os homens são muito fracos à nascença, por isso são mais susceptíveis a contrair doenças epilépticas”.
Aurélia Panguane, de 30 anos, é mãe de um menino de 3 anos. Dá-se por feliz por ter recorrido ao remédio de lua para o tratamento do seu filho. “Estou a seguir a tradição. Sigo a prática dos meus pais”. O filho ainda toma o medicamento tradicional.
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